Há uma verdadeira mitologia por parte dos detratores do materialismo histórico, a respeito dessa palavra “materialismo”, como se ela fosse idêntica ao materialismo capitalista interesseiro, preocupado apenas com o material, com o dinheiro, ou coisa parecida. Ou, então, que o materialismo fosse contra o espírito, fosse alheio às coisas espirituais.
Não há nada mais falso ou descabido do que isso. Se existe um concepção de mundo que mergulha na matéria, no material, com a intenção de buscar formas, condições, de desenvolvimento do espírito, e que valoriza a arte, a cultura, o espírito, a felicidade humana e tudo aquilo que diz respeito ao bem estar dos seres humanos e o seu bem-estar material e espiritual, essa concepção de mundo é precisamente o materialismo histórico.
Mas, então, se não é contra o espírito, por que se chama “materialista”? A palavra materialista vem exatamente para contrapor-se ao idealismo. Porque o materialismo acredita na existência do mundo, ele não fica metafisicamente especulando a respeito de saber se somos produtos de um deus criador, de uma realidade paralela ou de qualquer outra solução encontrada no mundo das ideias. Não, para o materialismo o mundo existe, ele é real, é aqui na terra, onde vivemos, que encontramos as misérias, as belezas, as riquezas e tudo aquilo que podemos modificar em prol de um vida melhor. É neste sentido que se chama materialismo. Poderia até chamar-se realismo. Acontece que, quando surge o materialismo histórico, já existia uma corrente filosófica com esse nome de realismo, e que era precisamente ao contrário, era uma corrente idealista. Materialismo é a preocupação com a vida, ele é perigoso porque ele mostra o real como é verdadeiramente.