De tudo que vimos sobre liberdade humana a conclusão inevitável é de que o liberalismo não é a favor da liberdade. Porque, quando o capital, a quem o liberalismo serve, fala em liberdade, não é no sentido humano-histórico, que vimos aqui. Se ele assim o fizesse, estaria inviabilizando o próprio capitalismo, pois lhe negaria precisamente aquilo que o torna real, que é a exploração do outro com base na dominação. O capitalista detém em suas mãos o dinheiro, que lhe permite acesso aos meios de produção, sem os quais não há produção da riqueza, necessária à vida humana. Ou seja, só ele tem a propriedade das condições objetivas de produzir a vida material.
O trabalhador não tem isso. Então, o capital usa dessa situação de privilégio para impor a forma pela qual ele “concede” ao trabalhador a possibilidade de ter acesso aos meios de produção, ou seja, aos meios de vida. Por isso, ele precisa da liberdade, do direito – infelizmente garantido institucionalmente – de pagar ao trabalhador apenas o valor de sua força de trabalho, não de seu trabalho e de toda a riqueza que ele produziu, que é imensamente maior do que o valor de sua força de trabalho. Mas o que seria liberdade para ele não o é para o trabalhador, que não tem outra alternativa a não ser a de deixar-se explorar.
Você poderá dizer: ‘se o capital não fizer assim, o trabalhador, este morre.’. Sim, mas, a longo prazo, também o capitalista morre. Porque, se ele apenas consumir sua riqueza, um dia ela acaba. Por isso, a dependência é recíproca, o capital precisa que trabalhador sempre renove e amplie a sua riqueza, que já é produto de explorações anteriores.
Por isso que falar em capitalismo selvagem é pleonasmo. Porque ele só pode existir amparado em leis não históricas, não humanas, em leis naturais, na lei do mais forte. O lobo tem a liberdade de comer o cordeiro. Da mesma forma, o capital, necessariamente, naturalmente, tem a liberdade (do liberalismo econômico) de explorar o trabalhador. O Liberalismo econômico é contra a liberdade humana.
