Penso que todo drama e fracasso da educação escolar brasileira se sintetiza na crença de que educação é simples passagem de conhecimentos. Não é! Primeiro porque o conteúdo legítimo da educação não se resume a conhecimentos e informações. Educar é construir o humano-histórico. E o humano-histórico se faz com conhecimentos e informações, sim, senhor, mas também com valores, ciência, filosofia, crença, tecnologia, tudo enfim que constitui a cultura. Educação é a apropriação da cultura humana.
Em segundo lugar porque, a não ser metaforicamente, não existe, a rigor, a passagem ou transporte de cultura de uma pessoa para outra. Quando eu, como educador, consigo fazer com que você se aproprie de determinado elemento cultural (um conhecimento, um valor, uma habilidade, etc.), esse conteúdo passa a ser seu, sem deixar de ser meu. Não há transmissão. O que há é a apropriação da cultura, por parte de quem aprende, a partir da ação docente de quem educa.
Ou seja, eu não TE educo (esta é apenas uma maneira de dizer). Eu propicio condição para que você SE eduque. É essa condição de sujeito, tanto de educador quanto de educando, que se faz presente numa educação de verdade.
E aqui é muito importante perceber, em termos de exercício da liberdade e da democracia, o enorme contraste que existe entre esses dois conceitos. Um conceito tradicional: educação é passagem de conhecimentos. Eu, sujeito, passo conhecimento para um objeto. Na educação progressista e no sentido rigoroso, educação como apropriação da cultura. Eu, ser livre, autônomo, me aproprio da cultura a partir do trabalho autônomo de um educador que me propicia as condições dessa apropriação.
Mas o que tanto a velha escola quanto o atual conteudismo não conseguem compreender é que esse modo tradicional de ensino, além de autoritário, é estúpido e ineficiente porque está provado que o educando só aprende se quiser. Se ele não se faz sujeito, ele não aprende, resultando no fracasso da escola, como vem acontecendo nos últimos séculos.
