“O importante não é vencer, o importante é competir.” Calma, lá. Você já viu alguém que competisse que não fosse para vencer? O importante é vencer, sim. Todos nós queremos a vitória. Só que ela não envolve sempre a competição. A vitória vem do esforço, do trabalho, do empenho, da perseverança.
Esse surrado jargão expressa bem a moral selvagem da sociedade em que vivemos. Todos competem contra todos, para que ninguém vença e só o capital e seus apaniguados sejam vitoriosos.
O ideal olímpico forjado pelos gregos encaixa-se como uma luva na ideologia capitalista. É que os gregos, por mais evoluídos que fossem, ainda não tinham condições históricas para abraçar uma ética mais avançada, que só viria com Karl Marx.
Sua teoria do valor demonstra como essa tara individualista de competir com todo mundo só serve ao capital, o grande e eterno vencedor. Não é por acaso que esse contrassenso olímpico tenha feito tanto sucesso na era moderna.
Ora, se há algo de bonito nas Olimpíadas, não é a competição, mas a participação, o congraçamento entre colegas ou a alegria de ver que um companheiro saiu-se vitorioso, mesmo chegando à nossa frente.
06 Na verdade, ao incitá-lo a competir, o capital quer que você finja de vencedor, de empreendedor ou outra qualquer bobagem, para continuar a competir e a não refletir a respeito das desigualdades necessárias para o capitalismo.
A essa altura, o capital está rindo escrachadamente e dizendo: “Vai, idiota, continue a competir contra seus companheiros, até morrerem competindo para que a desigualdade se perpetue, e eu, o soberano capital, seja sempre o único vencedor.
Há pouca coisa mais melancólica do que ouvir pessoas dizendo que os pais, ou a escola, precisa ensinar as crianças a competir. Para com isso! Qualquer imbecil sabe competir. Ele já nasceu sabendo, porque esse é um instinto natural, útil para a preservação da espécie, mas que de modo nenhum garante a construção de uma personalidade humana e feliz.
Essas pessoas não percebem que, ao estimular as crianças a competir, estão, na verdade, apenas perpetuando seu espírito tacanho de vencer o outro, de ser o melhor, em vez de educar para a cooperação e para a felicidade de todos, que é o escopo da verdadeira educação libertadora.