Quem nunca teve o desprazer de, ao utilizar um transporte coletivo, topar com um ou mais desses indivíduos que, portando um livrinho preto na mão, se acham no direito de nos atazanar pregando as concepções de mundo do tempo de Abraão ou Moisés? Há pessoas que os aturam ou se sentem com escrúpulos de censurá-los em nome da tolerância e da liberdade religiosa.
Mas penso que liberdade nenhuma pode ser pretexto para coibir a liberdade alheia. Ignorar isso e dizer que inibir a ação desses seres maçantes que vomitam suas crenças (privadas) num espaço público, aporrinhando a paz dos outros, é contra a liberdade de expressão é confundir as coisas e não entender absolutamente nada de direitos e deveres bem como dos conceitos de público e de privado numa sociedade democrática. A crença é um direito garantido na Constituição, mas é algo privado, porque se supõe que o Estado seja laico. Não estamos na Idade Média e nem aqui é o Estado Islâmico. Portanto, crença ou fé restringe-se ao privado. Quando ela invade o público, ela nega a laicidade da democracia. A ciência é pública, e exige a comprovação, mas a fé é privada, cada um tem a sua e ninguém tem o direito sequer de exigir que se prove sua validade. Mas ela não pode invadir o público, porque este diz respeito ao universal, ao que vale para todos. Por isso, da mesma forma que é um absurdo a religião (privado) na escola (público), não se pode admitir que pessoas que, por ignorância ou má fé, não têm o menor respeito pelo direito de locomoção dos outros, venham perturbar a paz de quem se encontra num transporte coletivo. Confundir isso com liberdade de expressão é renunciar a transitar no domínio da ciência e da reflexão (público) e manter-se dogmaticamente no domínio da crença (privado).
Vitor Henrique Paro, 17/02/2020
Se notar alguma ideia ou tema que você considere mal abordado ou que exija maior explicação,
me comunique, por favor. Terei prazer em considerar sua observação.
Ja tive o desprazer de uma viagem interestadual de 24 horas na companhia de um grupo de passageiros que desandou a cantar após o almoço como se estivessem num onibus de excursao. Fui até o motorista solicitar uma atitude dele, ja que a propria empresa costuma ter avisos nos onibus para o uso de fones de ouvido em respeito ao sossego alheio. O motorista pediu que parassem, mas em vez de argumentar a politica da empresa, argumentou minha reclamação. Me deu odio, mas pelo menos se calaram, ainda que sob protestos. Gente sem noção do que seja público ou privado.
Fico muito incomodada qdo sou abordada por pessoas que querem impor sua religiosidade nos diferentes espaços públicos ou até tocando a campainha da minha casa. A princípio ficava com raiva, mas comecei a observar seus comportamentos e vejo a alienação estampada em suas ações, acho triste….e muito trabalho para nós educadorxs!
É verdade, Adriana. Na falta de um Estado laico que coíba esses abusos, fica muito difícil para nós, cidadãos, conviver com essa situação constrangedora e estabelecer o limite entre a compaixão pela ignorância dos crentes que nos azucrinam e a omissão diante da falta de respeito cívico que eles tentam nos impingir. Um abraço.
4 Comentários
Ninguém aguenta mais isso um abuso!
Ja tive o desprazer de uma viagem interestadual de 24 horas na companhia de um grupo de passageiros que desandou a cantar após o almoço como se estivessem num onibus de excursao. Fui até o motorista solicitar uma atitude dele, ja que a propria empresa costuma ter avisos nos onibus para o uso de fones de ouvido em respeito ao sossego alheio. O motorista pediu que parassem, mas em vez de argumentar a politica da empresa, argumentou minha reclamação. Me deu odio, mas pelo menos se calaram, ainda que sob protestos. Gente sem noção do que seja público ou privado.
Fico muito incomodada qdo sou abordada por pessoas que querem impor sua religiosidade nos diferentes espaços públicos ou até tocando a campainha da minha casa. A princípio ficava com raiva, mas comecei a observar seus comportamentos e vejo a alienação estampada em suas ações, acho triste….e muito trabalho para nós educadorxs!
É verdade, Adriana. Na falta de um Estado laico que coíba esses abusos, fica muito difícil para nós, cidadãos, conviver com essa situação constrangedora e estabelecer o limite entre a compaixão pela ignorância dos crentes que nos azucrinam e a omissão diante da falta de respeito cívico que eles tentam nos impingir. Um abraço.