63 Bolsomínions religiosos

Quero falar aos professores e professoras progressistas que não conseguem se conformar com a existência de milhões de bolsomínions entre os pais e mães das crianças que eles tentam ensinar, e com a enorme predominância entre eles de evangélicos e outras denominações religiosas. Bem. Em primeiro lugar, é preciso jamais violar o direito de credo dessas pessoas por mais estapafúrdias que essas crenças costumem ser. O direito a ter uma fé religiosa é uma das conquistas mais importantes da civilização. Isso não impede que sejamos críticos a essas crendices e às consequências desastrosas que elas trazem à sociedade. É preciso não confundir tolerância religiosa com conivência com o mal que as religiões podem trazer. Como no combate às drogas, há que se combater o vício ao mesmo tempo em que se protege e se salva o viciado. Em segundo lugar, é preciso ter presente que o problema maior não é o fato de votarem em um ser abjeto para presidente, mas o de agirem e de pensarem como esse ser, contribuindo para as mesmas atrocidades que ele defende e comete.

O revoltante e doloroso é pensar que essas dezenas de milhões de pessoas que vomitam amor ao próximo em nome de Jesus, e que se babam em orações diante de um deus que dizem misericordioso, são capazes de pensar e agir de forma preconceituosa, discriminadora, racista, homofóbica, enfim, fascista e anti-humana, contra todos os princípios de civilidade e democracia. Mas eles não se tornaram maus agora, com a vinda desse político nefasto. Esse é um processo que já vem de muito tempo e que agora encontraram alguém igual a eles para se expressarem. Também não foi a Bíblia que os fez assim. Eles não são bolsomínions porque são evangélicos. Eles são evangélicos e bolsomínions porque, entre outras coisas, são ignorantes. E esse é um assunto para nós, educadores.

Por isso, o caminho não é atacar os pais e mães, pelo contrário é procurar acolhê-los, lembrando que o pai ou mãe ignorante de hoje é o aluno ou aluna que nós não ensinamos quando eram crianças como as que temos hoje diante de nós, ou seja, seu filho e sua filha. É deles, portanto, que temos que cuidar. Não se trata, em absoluto, de fazer doutrinação política ou de incutir conteúdos ideológicos arbitrários. Se assim fizermos, estaremos descendo ao nível da monstruosa e absurda doutrinação religiosa feita pelas igrejas e pelas famílias, que costumam inculcar suas bobices míticas e imaginárias sem nenhum respeito pela fragilidade das crianças. O que é preciso é mostrar objetivamente a realidade como ela é. É nisso que está, em primeiro lugar, o caráter revolucionários das chamadas disciplinas escolares. Matemática, Geografia, História, Literatura, Física, Química, tudo enfim relacionado ao conhecimento do mundo: ciência, arte, filosofia…

À proporção que apreende as múltiplas leis e determinações do real, o educando vai formando para si uma visão mais objetiva do mundo natural e social e das maneiras de abordá‑lo e modificá‑lo em benefício do próprio homem.É assim que ele vai afastando as concepções mágicas e mistificadas do mundo, inerentes às religiões de toda espécie. É dando educação de verdade a esses jovens que conseguiremos quebrar a máquina de fazer bolsomínions.

25/12/2023

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